A Engie Brasil está pronta para participar do leilão de transmissão marcado para essa sexta-feira, 30 de junho, esperando que talvez a concorrência aconteça em um patamar abaixo das disputas anteriores. “Espera-se um nível de competição elevado, talvez menor que os certames anteriores por algumas especificidades como taxas de juros, investimentos adquiridos por alguns players e tamanho dos lotes. Não vai ser fácil mas vamos fazer nosso melhor”, disse o diretor-presidente da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini, após participar de uma mesa de debates em um evento organizado pelo CEBRI e o Institute of the Americas (IOA) nessa quarta-feira, 28 de junho, no Rio de Janeiro.

Sobre a outra competição sinalizada pelo Ministério de Minas e Energia para o ano que vem, estipulada em R$ 20 bilhões, o executivo comentou ser uma decisão acertada, afirmando que tem conversado há anos com os governos de que para se ter uma indústria sustentável na transmissão é preciso ter a distribuição dos investimentos ao longo do tempo, de forma homogênea. Outro certame também é previsto para outubro desse ano.

“Não adianta ter um ano com R$ 50 bilhões em investimentos e no outro ano não ter nada, o que gera desmobilização e ineficiência da indústria, encarecendo a capacidade de escoamento, além de problemas de segurança, com a obrigação de colocar mão de obra destreinada para alguns serviços de alta periculosidade como tratores e içamento de cabos”, avalia.

Sattamini disse crer na efetivação do leilão de capacidade no fim do ano para dar maior segurança ao sistema em meio a um cenário de sobreoferta das renováveis intermitentes, trabalhando com a criação de valor para as hidrelétricas que hoje sofrem bastante com a estrutura de mercado e falta de valoração de seus atributos, por meio da utilização dos poços abertos em pelo menos duas usinas. Já o pipeline de 1,8 GW será retomado quando o consumo e a demanda voltar a crescer, ou no caso de mais térmicas serem aposentadas.

Sobre o armazenamento por meio de baterias, ele ressaltou sua visão pessoal de que o país conta com a enorme bateria vinda dos reservatórios hidroelétricos, que vem suportando a variação de carga, apesar de reconhecer o mérito de aplicações em pequena escala, mas que seja feita de forma competitiva, sem reserva de mercado. “Que sejam realizados leilões de armazenamento, colocando na competição a bateria física e os reservatórios”, pontua.

Subsídios

Quanto a cultura de subsídios no setor, tema que permeou boa parte do último painel do primeiro dia do evento, Eduardo salientou ser contra a existência de mais incentivos desse tipo, a não ser que sejam muito bem estruturados, onerando também de alguma forma aqueles que se beneficiam, e com prazo para acabar, diferente da maior parte dos lobbies que são vistos no Congresso Nacional.

“Não sou totalmente contra o subsídio, mas esse de geração eólica associado ao hidrogênio verde não precisa, pois a fonte já é muito competitiva”, destaca, vendo como razoável a não exportação de impostos e encargos para essa nova indústria.

Para o dirigente, quando se introduzem novas tecnologias é preciso de agilidade regulatória para corrigir as ineficiências trazidas ao sistema, ainda mais com subsídios prolongados sendo concedidos para determinadas fontes. Para sair de um cenário classificado por ele como de falta de planejamento, excesso de oferta e preços muito baixos, que fazem do Brasil o país da energia barata mas tarifa cara, é preciso, além dos pontos já citados, o crescimento da demanda, vendo a exportação de energia permanente para países vizinhos e o hidrogênio verde e reindustrialização do país no médio prazo, além da diminuição da oferta nos segmentos que não possuem mais incentivos.

“Precisamos da abertura ampla do mercado, pois alguns mercados já estão abertos da pior maneira, com subsídios e reserva de mercado, o que não proporciona ao consumidor todos os benefícios que ele pode ter”, reforça Eduardo Sattamini, da Engie Brasil Energia.

Outro ponto que não poderia ficar de fora da fala de Sattamini é a necessidade de valoração das hidrelétricas por oferta de preço, talvez um proxy de preço de quanto custa uma bateria e cobrar um custo equivalente das renováveis complementares. “Quando fechamos os contratos das hidrelétricas, ninguém pensava em energia intermitente ou GD”, lembra. Ademais o executivo destacou ser preciso olhar a capacidade comercial das usinas, reduzindo-as e compensando de alguma forma na extensão das concessões, formulando maneiras para o setor não ter GSF abaixo dos 85% atuais, a não ser que seja por questões hidrológicas.